sábado, 9 de outubro de 2010

Sono no envelhecimento saudável

No Brasil, há cerca de 19 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que representa cerca de 10% da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As estimativas indicam que esse contingente será de 32 milhões em 2025 e levará o país ao sexto lugar em número de pessoas com maior idade no mundo. É o grupo etário que mais cresce. O envelhecimento da população é reflexo, principalmente, dos avanços da medicina moderna, que permitem melhores condições de saúde à população com idade mais avançada, fato que se repete em vários países.
 ser humano dorme cerca de um terço do tempo ao longo da vida. A idade média da população está aumentando e as doenças do sono são mais frequentes nas pessoas de maior idade. O envelhecimento saudável, ou envelhecimento normal, é aquele no qual está preservada a boa qualidade de vida, não ocorrendo doenças que limitem a sua independência.
No envelhecimento saudável, observa-se uma redistribuição do sono ao longo do dia. Aumenta o sono diurno e diminui o sono noturno. A falta, ou a privação de sono, é menos sentida na faixa etária mais avançada. Mesmo assim, há dificuldade de adaptação às mudanças no horário de trabalho (trabalhadores de turno).
A maioria dos indivíduos saudáveis com mais de 65 anos apresenta despertares longos, com mais de 30 minutos de duração e tende a permanecer de 15 a 20% do tempo na cama acordada. Também se observa com frequência, o “adiantamento de fase”, que é traduzido no deitar muito cedo e acordar de madrugada, permanecendo muitas vezes na cama por longas horas, após ter despertado. Muitas das modificações que ocorrem naturalmente no sono podem ser observadas no exame de Polissonografia.
Alguns distúrbios do sono estão entre as alterações mais comuns da maior idade, tais como os problemas respiratórios, os movimentos periódicos de membros e as alterações relacionadas à Doença de Alzheimer.

• Ronco e Apneia do Sono (ruído, pausas ou paradas respiratórias que ocorrem durante o sono) aumentam com a idade, tanto por se tratar de uma condição progressiva, como por alguns fatores do próprio envelhecimento, tais como: o enfraquecimento da musculatura da garganta, a diminuição da função da tireóide, o aumento de peso e a queda no controle da respiração. O exame de polissonografia indicará o índice de apneia e hipopneia. Se estiver acima de 30 deverá ser tratado, evitando, assim, a incidência de mortalidade em cinco anos.
 A frequência dos movimentos periódicos de membros (movimentação de pernas e de braços ao longo da noite) aumenta progressivamente com a idade. Muitos mecanismos são responsáveis por esse aumento de movimentos que não causam maior repercussão na saúde, mas fragmenta o sono. O sono torna-se “picado”, não reparador, aumentando a sonolência diurna, tal como ocorre na apneia.
• A Doença de Alzheimer acomete cerca de 20% da população com mais de 70 anos de idade. Algumas alterações do sono estão relacionadas a esta doença, podendo ocorrer maior freqüência de despertares noturnos, caminhares durante a noite, confusão mental e alucinações ao anoitecer. Alterações na arquitetura do sono são observadas no estudo polissonográfico.
• A Doença de Parkinson é uma doença degenerativa progressiva, caracterizada por tremor de extremidades em repouso, lentificação de movimentos e anormalidades posturais. Caracteriza-se, quanto às alterações do sono, pela dificuldade de iniciar e manter o sono, pela presença de sonilóquio (falar no sono), pela dificuldade de se mover na cama, de sair da cama e pelos movimentos aumentados de membros (ocorre em 1/3 dos indivíduos com essa doença). O distúrbio comportamental do sono REM, que é uma dramatização geralmente agressiva, que ocorre durante os sonhos, pode aparecer anos antes da manifestação da D. de Parkinson.
• A Insônia está presente em 19 a 38% dos indivíduos maiores de 60 anos e está associada a uma maior mortalidade e dependência de cuidados. Isso ocorre porque a insônia, nessa faixa etária, diferentemente do jovem, é frequentemente secundária a outros fatores como doenças neurológicas e cardiorrespiratórias. A causa dos despertares mais frequentes na maior idade (63 a 72%), é o despertar para urinar. Também a dor crônica é frequente causa de insônia. A menopausa contribui para a piora da qualidade do sono. É imprescindível levar em conta fatores ambientais e psicológicos que contribuem para o aumento da incidência da insônia nesta fase de vida. Estudos populacionais revelaram que grande parte da população com mais de 65 anos é submetida ao isolamento social, empobrecimento material, pouca exposição à luz solar e ansiedade decorrente do medo da morte e das enfermidades.
Nos seres humanos, o sono inicia seu processo contínuo de mudanças a partir do nascimento, permanecendo por toda a vida em constante evolução. Sabendo disso, deve-se ficar alerta para as alterações do padrão de sono que não sejam naturais ao processo de envelhecimento.

A seguir, algumas considerações importantes para manutenção de um sono adequado na maior idade:
-Higiene do sono:
-ter horário regular, especialmente para levantar;
-evitar estimulantes: álcool, cafeína;
-restringir o tempo no leito. Usar a cama apenas para dormir e manter relações conjugais;
-manter o local de dormir arejado, escuro e silencioso.

Atividade física:
-contribui para o início do sono e diminui os despertares ao longo da noite;
-é benéfica para vários outros problemas clínicos como distúrbios músculo-esqueléticos e sobrepeso.
-Fototerapia (exposição à luz):
-melhora o alerta, o humor e a qualidade do sono;
-ajuda a iniciar o sono da noite seguinte com a luz da manhã;
-diminui a sonolência com a luz da tarde.

A sesta após o almoço está associada a:
-diminuição da pressão arterial;
-melhora do humor;
-menor sonolência;
-melhora da performance motora e cognitiva.

Por Dra. Clarissa Castagno - Proprietária do Instituto do Sono





Nenhum comentário:

Postar um comentário